26.3.10

Miguel Fazenda expõe no CAE

Até 4 de Abril pode apreciar uma exposição de Miguel Fazenda na sala Zé Penicheiro do Centro de Artes e Espectáculos da Figueira da Foz.
Solicitámos-lhe um breve historial do seu início como artista. Enviou-nos um texto algo longo mas que optámos por publicar na íntegra devido a oportunas considerações, explanadas no último parágrafo, que explicam muito da "pobreza de arte" que, por vezes, se vê por aí, fruto de quem começou a pintar "ontem" e "hoje" já se julga um grande artista!...


“Desde sempre senti uma grande paixão pelo desenho, apesar de inicialmente querer seguir arquitectura. No ensino secundário tive uma professora de história da arte, fabulosa pela maneira que falava da arte de uma maneira tão apaixonada. Quando estudei a arte do séc. XIX (realismo e impressionismo) em que muitos artistas quase morriam de fome mas não deixavam de pintar e de fazer coisas com imensa qualidade decidi que iria seguir pintura. Ainda hoje, 15 anos depois, tenho uma visão muito romântica da arte. Ingressei na Faculdade de Belas Artes de Lisboa e concluí a licenciatura (de 5 anos), em pintura, em 2002. Apesar de ter estudado nas Belas Artes senti pouca influência da maioria dos professores e colegas, pois o curso era bastante teórico e a parte técnica, assim como a figuração, eram deixados de lado. A “figura” pintada de forma realista era considerada académica e ultrapassada.

"As minhas primeiras pinturas, ainda antes de entrar na faculdade, eram cópias de pinturas de Van Gogh e de outros da sua época. Porquê cópias? Sempre acreditei que se nós aprendíamos a escrever fazendo cópias também deveríamos aprender a pintar copiando. Os grandes mestres do passado aprenderam copiando obras de outros artistas.
Podem-me perguntar: "-Aprendeu copiando obras impressionistas mas não é impressionista pois não?" É verdade, não sou impressionista nem paisagista, mas sou muito influenciado pela cor, pela pincelada, pela maneira de pensar de alguns impressionistas.
Obviamente que um entendido ao olhar para os meus trabalhos consegue aperceber-se que gosto imenso do expressionismo e autores como Egon Schiele, Kokoshka, Emil Nolde ou ainda Lucian Freud e o meu artista preferido de sempre Francis Bacon.
Depois adoro a pintura “realista” Neoclássica (David, Ingres ou a escultura de Canova), sou também um grande fã das artes surrealista e dadaista.
Nos meus quadros gosto de misturar todas as minhas influências e de muitas vezes homenagear os artistas que me tornaram quem sou, colocando nos meus trabalhos pinturas ou esculturas desses artistas.
Os meus quadros contam histórias (um pouco à maneira da Paula Rego) e cada elemento tem algo a dizer. Essa história tem que ser decifrada e descodificada pelo espectador.
A minha carreira tem sido uma pequena luta pela afirmação das Novas Figurações, pois se agora começam a ser aceites à meia dúzia de anos eram muito mal vistas. As pessoas (público e compradores) gostam muito de arte abstracta, pois combina com os cortinados e não é preciso pensar muito para a apreciar. É difícil para algumas pessoas ver uma tela com pessoas, com rostos, com expressões, etc. Já me disseram: “-Eu não quero lá em casa quadros com caras! Sei lá quem são essas pessoas!”. É triste ouvir isto. No inicio do século XX ninguém queria abstractos e eram considerados defeitos técnicos. A minha luta é por um respeito mútuo entre figurações e abstracções e os abstraccionistas que neste momento dominam o mercado da arte não respeitam as figurações. Porque será? Talvez por dificuldades técnicas? Não sei, apenas me apercebo que muitos pseudo-artistas caem no facilitismo do abstraccionismo esquecendo-se que é fundamental saber desenhar primeiro para depois fazer abstractos. Na música primeiro aprende-se a técnica e depois parte-se para a improvisação e não o contrário. Na arte deveria ser igual."

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